Brincar nos remete ao encanto da
representação...De ser quem está no nosso imaginário em construção.
A minha avó preparava uma "casinha de
bonecas" para eu brincar... No espaço da menina que ela não
teve.
Cinco filhos homens ...E chega a primeira neta menina...!
E eu, com ela, íamos montando nossa casinha com camas e flores, comidinhas nas panelinhas, vestidinhos das bonecas no guarda roupas de brinquedo... Uma casinha completa que a um marceneiro ela encomendou.
... Um bordado em uma toalha de rosto para o meu
avô, Pai Né, ela me ensinou a fazer com 5 anos... tricô, crochê... etc.
Não me esqueço das tantas histórias na cozinha e de uma aconchego no colo, depois de um mexidinho de arroz com feijão torrado na panela, que só ela sabia fazer com seu carinho de vó...
Memória afetiva desse alimento e tantos outros quentinhos na cozinha do passado, tão presentes nas minhas lembranças.
Preciso dizer para minha vozinha que ela não tem
ideia, e nem eu tinha... do quanto me marcou com essa acolhida da menina que
chega na sua espera!
Hoje eu quero estar livre para falar o quanto ela foi importante para mim na minha formação! Sem desmerecer minha mãe, pai, tios queridos e tantos outros... mas meu coração é hoje da minha vozinha Bilica, nesse olhar para nós duas.
Não sabemos mensurar a importância de nossos
pais e avós nas nossas vidas...
Sei que muitos não devem ter uma memória tão rica de seus avós e pais, talvez até uma lembrança amarga e triste... uma dor para esquecer... E isso é uma pena...
Porque avó na vida de uma menina é tão bom quanto pai amoroso de autoridade positiva! Esse, quando é amoroso e cuidadoso, é sol na vida de uma mulher, em agradecimento pela sustentação do amor de um homem criador a quem assemelhamos Deus... Um porto seguro no mar agitado da vida.
A mãe é especial, o espelho com quem brigamos,
amamos, queremos nos desvencilhar para virar adultas, um ninho para entender e
respeitar.
Mae é uma menina muitas vezes também em crescimento, uma mulher que se faz mãe em aprendizado, dor, preocupações e alegrias.
Mas a vó!... Ah, a vó é um doce querer de quem já viveu muitas dores e amores...
Hoje não tenho minha mãe, meu pai, meus avós...
mas os tenho na memória da construção da minha história... tão pertos! Tão
essenciais!
Ah, e as flores nas janelas nos meus momentos de
montar a minha casinha imaginária com os filhos - e os futuros netos, que já
são sementes germinando em mim - são para essas mulheres que se fundem em mim:
a mãe e a avó e, por extensão, o que as rodeia e povoa em seus lares do
passado.
Dulce Braz