domingo, 26 de agosto de 2012

Primavera




A Primavera vem chegando no rastro do vento  

Colorindo nossos olhos em sobretons

Despertando lembranças de amor

Cobrindo gestos de adeus...


Primavera traz cores em flores

A enfeitar a vida insistentemente cinza

Um recado de doçura e beleza

Para alegrar meus olhos cansados...




















Dos canteiros floridos 

Eu imagino buquês apaixonados 

a enlaçar a saudade 

de um romance compartilhado 

Entre aqueles que do nosso lado aqui estão... 

Ou do outro lado, na eternidade do amor vivido...


Primavera é o momento do auge da beleza

Que já anuncia a sua brevidade!

Os flashes buscam captar sua extravagância em perfeição

buscando imortalizar a obra de arte natural 

em seu mistério...



















Mãos humanas procuram replicá-la

Mas a criatividade maior 

não está em seu poder, 

por mais que do real se aproximem...


Gestos humanos buscam partilhar da sua significância 

No desejo de imortalizar a beleza perfeita e frágil

Em flores para selar encontros, 

Curar desencontros,  

Comemorar vitórias

Saudar uma vida que chega

Selar um adeus impotente 

de um amor misturado à beleza e dor!



























E tudo é fugaz 

como as flores em sua beleza

Por mais que queiramos 

segurar em nossas mãos o seu encanto

Elas não são nossas... 

Elas passam por nossas vidas como tudo passa...


E nós apreendemos, em nosso ser, 

o amor daquilo que se mostra!

O amor daquilo que representa 

nosso desejo do belo, do inefável!

Da significância da beleza e do mistério. 

Da criatividade do Criador!



Dulce Braz



quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Fragilidades

Relacionamentos...
Difícil viver sem
Impossível sermos sós...

Convivência com os outros em nós...
Com os nós nos outros se enovelando...
Em uma comprida história em rede
marcada pela cultura que nos atravessa  a experiência do bem e do mal.

Somos e nos fazemos nos relacionamentos...
Por vezes frágeis porcelanas jogadas ao chão,
Em palavras que não abarcam o sentir
Remendos na alma buscando um acerto.

Difíceis os medos tolos que nos invadem
Quando a vida vem mostrando as contas...
Vontade fazer o mais próximo de nós
Daquilo que ficou embrulhado nas renúncias.

As dores não deveriam ser tantas
Somente ser o que se é...
Ver o que se mostra...
Escutar o que fala lá onde você se esqueceu...

Os amores continuam...
As dores virão...
Nada se perde,
nada se vai para sempre.
Tudo acontece o tempo todo a nossa volta.

O que foi não deixa de existir em amor,
Em realidade vivenciada ,
Em história no tempo...
Nada por acaso...
Tudo certo no seu lugar.

Somos travessia.
Somos dor,
Somos pequenas alegrias no tempo.
Somos o que somos e o que buscamos
Nem sempre achamos , mas sempre procuramos.

Porque essa é a nossa brincadeira
Maior na vida: procurar o mistério
Revelado em pequenas distrações do olhar.

Aquilo que é se mostra
E já não somos mais os mesmos
Um dia após o outro...
Uma noite após a outra
Nos sonhos sonhados de outrora...

Serenando a fronte,
Vou caminhando ...
O sentimento pesa mais que os fatos.

Olhar para trás traz saudade...
Traz a palavra dita de relance
Naquela fala de minha avó
Querendo me mostrar sua trajetória de mulher
na coerência do seu devir...
O que ficou e o que poderia ser
sempre serão a semente e o fruto
Amargo e doce da procura da humanidade.

Viver é isso...
é o instante em que a luz se acende
clareando o que se mostra
aos nossos olhos
que insistem em dormir acordados...

Quando se vê, já é noite
Quando se vê, já é outro dia
Nada fica totalmente
Nada se esvai em sua totalidade.


Dulce Braz